sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

COMO ME TORNEI ESTÚPIDO (RJ)


Sagaz estupidez

Com temática atual, e inserida no cotidiano moderno, a comédia COMO ME TORNEI ESTÚPIDO retrata a alienação social e urbana do mundo contemporâneo. Na noite de 18/02, no centro da cidade do Rio de Janeiro, no Teatro Sesc Ginástico, as cortinas se abrem para esse tão necessário espetáculo.

Baseado na obra de Martin Page, um jovem escritor francês que vem se destacando no cenário internacional, a peça ganha adaptação dramatúrgica de Pedro kosovski. Contrariando a maioria das adaptações, que muitas vezes reduzem, em muito, a essência de uma obra, a versão de Kosovski consegue superar essa tão obvia dificuldade. Sua dramaturgia é perspicaz e inteligente ao extrair do enredo situações cênicas altamente favoráveis ao drama, no sentido de composição teatral. Os quadros cênicos são muito bem definidos e objetivados, ganhando mais força com as breves narrações que “amalgamam” todo o enredo.  

O diretor Sergio Módena assertivamente conduz a encenação de maneira objetiva, fazendo da “aparente” simplicidade uma elaborada e criativa solução cênica que nos permite, a todo momento, acompanhar o desenvolvimento da trama, sem perder de vista o fio condutor.

O motor dessa encenação está a cargo dos 4 atores, Alexandre Barros, Gustavo Wabner, Marino Rocha e Rodrigo Fagundes. O quarteto de atores compõe as peculiaridades de seus personagens com pitadas excêntricas e inteligentes, não se deixando caírem no caricato. São nos detalhes de seus personagens, que a comédia, aparentemente despretensiosa, vai somando ora esquisitice, ora extravagância, ora originalidade para então resultar numa brilhante comédia inteligente, se assim quiserem rotulá-la.

Contribuindo ainda para o sucesso desse espetáculo, está a trilha sonora do competente e sensível Marcelo Alonso Neves. Sua criação sonora endossa ainda mais as cenas criando uma atmosfera que transpõe para o palco a verdade cênica da história, oferecendo mais um elemento que vai engrandecendo a narrativa.

A luz de Tiago e Fernanda Mantovani parece saber “gestar”, o que inicialmente cumpriria certa funcionalidade, explode em belas e significativas imagens construídas a serviço do enredo. Em determinadas cenas, a própria luz chega a ser um personagem, enriquecendo e levando beleza aos olhos dos espectadores. 
   
Flavio Souza, que assina os figurinos, opta assertivamente por figurinos realistas e modernos, dando mais credibilidade as críticas impetuosas dos personagens. É inevitável não nos sentirmos, pelo menos em algum momento do espetáculo, um ESTÚPIDO.  

Colaborando com criatividade e dinamismo a concepção do cenário em estantes modulares tinha tudo para cair no clichê enfadonho de montagem de quadrinhos cena a cena. Mas não é isso que acontece, graças ao excelente desempenho dos atores que assumem com propriedade o que se propuseram a fazer. O que vemos são 4 excelentes atores, seguros e conscientes da história que estão contando e das escolhas que fizeram em sala de ensaio. O prazer e a afinação com que jogam em cena transparecem para o espectador que se entrega desde o início ao espetáculo. Acredito que o diretor ao assinar a cenografia juntamente com Carlos Augusto Campos, deixa também a sua marca de diretor encenador, que sabe orquestrar sua criação, defender sua visão e se entregar com paixão ao seu ofício.

Viabilizando e possibilitando que esse espetáculo viesse a público, está o belíssimo trabalho de Produção da Diálogo da Arte. Ana Paula Abreu e Renata Blasi são profissionais competentes e compromissadas com seu trabalho.

Merece destaque o trabalho realizado pela Duetto Comunicação na assessoria de imprensa. Alessandra Costa e Michelli Toledo, são incansáveis. Obrigada por divulgarem o nosso teatro.

Parabéns para todos que contribuíram direta e indiretamente para a realização desse espetáculo. Sabemos que teatro não se faz sozinho e a colaboração de todos é parte fundamental para o sucesso de um trabalho.

RELEASE:
Entre um intervalo e outro do antidepressivo Felizac, Antoine tenta se livrar do sentimento de infelicidade que o persegue de maneiras variadas, como o suicídio, o alcoolismo e até a retirada de uma parte do cérebro em uma cirurgia complicada. Tentativas frustradas que o levam a uma última alternativa: tentar enriquecer para soterrar sua inteligência com hábitos e costumes capitalistas que, segundo ele, são o oásis da estupidez humana. Com êxito em sua última tentativa, o protagonista alcança o sucesso em busca à mediocridade, mas acaba vivendo constantes crises existenciais quando seu cérebro decide dar sinal de vida.



SERVIÇO:
Sesc Ginástico
18/2 a 2/3 - Quinta a sábado, às 19h. Domingo, às 18h.
Valores: R$ 5 (associado Sesc), R$ 10 (meia-entrada) e R$ 20.

Classificação 14 anos.

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