Sagaz estupidez
Com temática atual, e inserida no
cotidiano moderno, a comédia COMO ME
TORNEI ESTÚPIDO retrata a alienação social e urbana do mundo
contemporâneo. Na noite de 18/02, no centro da cidade do Rio de Janeiro, no
Teatro Sesc Ginástico, as cortinas se abrem para esse tão necessário espetáculo.
Baseado na obra de Martin Page, um jovem escritor francês que
vem se destacando no cenário internacional, a peça ganha adaptação dramatúrgica
de Pedro kosovski. Contrariando a maioria
das adaptações, que muitas vezes reduzem, em muito, a essência de uma obra, a versão de Kosovski consegue superar essa tão obvia dificuldade. Sua dramaturgia é perspicaz e inteligente ao
extrair do enredo situações cênicas altamente favoráveis ao drama, no sentido
de composição teatral. Os quadros cênicos são muito bem definidos e objetivados,
ganhando mais força com as breves narrações que “amalgamam” todo o enredo.
O diretor Sergio Módena assertivamente conduz a encenação de maneira objetiva,
fazendo da “aparente” simplicidade uma elaborada e criativa solução cênica que nos permite, a todo momento, acompanhar o desenvolvimento da trama, sem perder de vista o fio condutor.
O motor dessa encenação está a
cargo dos 4 atores, Alexandre Barros,
Gustavo Wabner, Marino Rocha e Rodrigo Fagundes. O quarteto de atores
compõe as peculiaridades de seus personagens com pitadas excêntricas e inteligentes,
não se deixando caírem no caricato. São nos detalhes de seus personagens, que a
comédia, aparentemente despretensiosa, vai somando ora esquisitice, ora extravagância,
ora originalidade para então resultar numa brilhante comédia inteligente, se
assim quiserem rotulá-la.
Contribuindo ainda para o sucesso
desse espetáculo, está a trilha sonora do competente e sensível Marcelo
Alonso Neves. Sua criação sonora endossa ainda mais as cenas criando uma
atmosfera que transpõe para o palco a verdade cênica da história, oferecendo mais um elemento que vai engrandecendo a narrativa.
A luz de Tiago e Fernanda Mantovani
parece saber “gestar”, o que inicialmente cumpriria certa funcionalidade, explode
em belas e significativas imagens construídas a serviço do enredo. Em determinadas cenas, a própria
luz chega a ser um personagem, enriquecendo e levando beleza aos olhos dos
espectadores.
Flavio Souza, que assina os figurinos, opta assertivamente por
figurinos realistas e modernos, dando mais credibilidade as críticas impetuosas
dos personagens. É inevitável não nos sentirmos, pelo menos em algum momento do
espetáculo, um ESTÚPIDO.
Colaborando com criatividade e dinamismo
a concepção do cenário em estantes modulares tinha tudo para cair no clichê
enfadonho de montagem de quadrinhos cena a cena. Mas não é isso que acontece,
graças ao excelente desempenho dos atores que assumem com propriedade o que se propuseram
a fazer. O que vemos são 4 excelentes atores, seguros e conscientes da história
que estão contando e das escolhas que fizeram em sala de ensaio. O prazer e a
afinação com que jogam em cena transparecem para o espectador que se entrega
desde o início ao espetáculo. Acredito que o diretor ao assinar a cenografia
juntamente com Carlos Augusto Campos,
deixa também a sua marca de diretor encenador, que sabe orquestrar sua criação,
defender sua visão e se entregar com paixão ao seu ofício.
Viabilizando e possibilitando que
esse espetáculo viesse a público, está o belíssimo trabalho de Produção da Diálogo da Arte. Ana Paula Abreu e Renata
Blasi são profissionais competentes e compromissadas com seu trabalho.
Merece destaque o trabalho realizado
pela Duetto Comunicação na
assessoria de imprensa. Alessandra Costa
e Michelli Toledo, são incansáveis.
Obrigada por divulgarem o nosso teatro.
Parabéns para todos que contribuíram
direta e indiretamente para a realização desse espetáculo. Sabemos que teatro
não se faz sozinho e a colaboração de todos é parte fundamental para o sucesso
de um trabalho.
RELEASE:
Entre um intervalo e outro do
antidepressivo Felizac, Antoine tenta se livrar do sentimento de infelicidade
que o persegue de maneiras variadas, como o suicídio, o alcoolismo e até a retirada
de uma parte do cérebro em uma cirurgia complicada. Tentativas frustradas que o
levam a uma última alternativa: tentar enriquecer para soterrar sua
inteligência com hábitos e costumes capitalistas que, segundo ele, são o oásis
da estupidez humana. Com êxito em sua última tentativa, o protagonista alcança
o sucesso em busca à mediocridade, mas acaba vivendo constantes crises
existenciais quando seu cérebro decide dar sinal de vida.
SERVIÇO:
Sesc Ginástico
18/2 a 2/3 - Quinta a sábado, às
19h. Domingo, às 18h.
Valores: R$ 5 (associado Sesc),
R$ 10 (meia-entrada) e R$ 20.
Classificação 14 anos.
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