“Nada do que é humano me é estranho”
Muitos autores e dramaturgos como Shakespeare e Machado de
Assis, já fizeram uso dessa frase. Mas ela é de autoria de Terêncio, dramaturgo
e poeta romano, africano, nascido entre 195-185 a.C. Mas se ela tivesse sido
dita por um dos personagens criados por David Mamet, para a peça RACE,
poderíamos, sem dúvida atribuí-la ao dramaturgo norte americano.
Em RACE,
Mamet, magistralmente utiliza o duplo significado da palavra: “Raça e Corrida”
para radiografar a espécie humana e nos apresentar um belíssimo texto. E,
diga-se de, antemão, que o diretor (Gustavo Paso) e o tradutor (Leo Falcão)
foram muito felizes em não traduzir o título, pois seria empobrecer e
unilateralizar os questionamentos propostos pelo autor. Pois, enquanto humanos,
somos todos semelhantes, e nada nos é estranho. Mas também em determinadas
circunstâncias oportunas e necessárias, somos capazes de cometer atos heroicos
e até os mais vis e deploráveis.
No drama
em questão, o Bilionário Charles (Yashar Zambuzzi) procura um escritório de
advocacia para defende-lo da acusação de estupro. Um enredo aparentemente
simples, mas acrescente a ele os seguintes fatos: A vítima é jovem e negra. O
acusado é branco e bilionário. Os sócios do escritório de advocacia: Jack
(Gustavo Falcão), branco; TJ (Luciano Quirino), negro e Suzan (Heloisa Jorge),
negra. Esses ingredientes fazem de Race um texto premiado internacionalmente.
Com diálogos primorosos, os dois advogados constroem a defesa do cliente
enriquecendo a trama em detalhes e abrindo discussões sobre: racismo, poder,
mentira e manipulação. Certos que vencerão o caso, os advogados constroem uma
defesa convincente em cima do “vestido de lantejoulas”.
Só que nesta corrida, quem sai em sentido contrário é Susan,
inflamando ainda mais a discussão sobre questões raciais, levando-a as últimas
consequências. Não quero contar toda a história, são muitas sutilezas, muitos
pontos de vistas, muitas reviravoltas, muitas surpresas, muuuuitas discussões,
e é por isso que é um excelente teatro.
Mamet
amplia a discussão criando dois personagens negros com pontos de vistas
completamente opostos. Traz questões sociais e de gênero racial, traz questões
humanas, éticas e morais, e é aí que está a grande identificação com o público.
Gustavo
Passo assina essa belíssima direção, nos apresenta um texto denso completamente
gostoso de ser digerido.
Os quatro
atores em cena estão executando um refinado trabalho de ator. Gustavo Falcão está indicado ao Premio Shell de Melhor Ator.
Race encerra
a temporada nesse domingo, 21 de fevereiro, mas ainda dá tempo!
sábado às 21h e domingo às 19h. Teatro
Poeirinha.
Não percam!!!!!
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