segunda-feira, 14 de março de 2016

CHABADABADÁ, manual prático do macho jurubeba (RJ)


O MACHO QUE ESTÁ MAIS PARA WANDO DO QUE PARA SHAKESPEARE

OU
O MACHISTA PÓS-MACHISMO

Certa vez sendo entrevistado num congresso sobre semiologias do espetáculo, em Milão, o professor Umberto Eco declarou: “o teatro é um lugar de condensação e convergência de semióticas diversas”. E é sobre esse aspecto que me atrevo, com muito prazer, a escrever sobre esse espetáculo em forma de manual, de autoajuda, de muita diversão em prosa e verso, e que faz jus a uma boa comédia de costumes.

Chabadabadá, manual prático do homem jurubeba, se condensa no nosso mais característico gênero do teatro brasileiro, transformando prosas, crônicas, contos e “poesia musicada” numa dramaturgia divertida e bem-humorada do cotidiano do macho que guarda feijão no pote de sorvete, que usa pomada Minâncora, e que não se rende as “modernagens” tendências dos metrossexuais.

O texto da peça é extraído do livro de Xico Sá, intitulado “Chabadabadá, o qual faz referência à trilha do filme “Um Homem, Uma Mulher”, obra-prima de Claude Lelouch. Mas aqui na peça Chabadadá é o nome do programa de rádio apresentado por Francisco Reginaldo (impecavelmente interpretado por Marcos França), um típico macho Jurubeba que responde a todas as perguntas das ouvintes “mal-amadas”, em busca de um consolo sentimental.

Marcos França também assina a dramaturgia do espetáculo, que dialoga com as pertinentes músicas bregas, do romântico cantor Wando, construindo um harmônico espetáculo, com uma atmosfera cômica, estruturado através dos códigos sociais bregas existentes na nossa sociedade.

Com um texto e uma dramaturgia popular da melhor qualidade, sem medo de ser “cafona”, Marcos França se lança, sem reservas, a interpretar, como já dissemos, impecavelmente o consultor sentimental. Só mesmo um ator maduro e seguro do seu trabalho é capaz de dar vida a um personagem que já nasceu caricato, sem ser “canastra”, sem usar de truques e gracejos para dominar a plateia. Marcos tem um carisma contagiante que extrai boas risadas da plateia sem precisar ser ofensivo e grosseiro, mas sabendo utilizar, a seu favor e com inteligência, essa semiologia da linguagem do espetáculo que transita na sátira, na “amoralidade”, no espirituoso e na ironia. Marcos também se preocupou em construir vocalmente seu personagem. Para quem conhece o ator, sabe que ele não tem aquela voz. Brilhante!!! Muito coerente com a construção física, imprimindo mais credibilidade ao jogo. É uma delícia vê-lo em cena, ou melhor, vê-los em cena, pois o músico André Siqueira divide o palco com o ator, em “chique” contraponto ao “macho-jurubeba”.

A direção de Thelmo Fernandes é limpa, precisa e “séria”, sem grifar o que já é cómico, e engraçado, confiando na própria linguagem do texto que dá conta desse recado.

Outro elemento muito importante de composição, é o figurino de Natália Lana, que exerce um papel temporal ao acrescentar e modificar, grotescamente, a roupa do personagem de maneira tão bem alinhavada no enredo, que imprime a sensação de termos assistido vários programas, do Chabadadá, em dias diferentes.

Natália Lana também assina o enxuto cenário da montagem com muita simplicidade funcional, deixando espaço para a excelente contribuição de Aurélio de Simoni, que além de trazer, com a iluminação, volume ao espetáculo, compõe um cenário de show que é intercalado à narrativa textual do espetáculo, convergindo na medida certa para o equilíbrio da peça.  

E por fim, não poderíamos deixar de ressaltar mais um belíssimo trabalho produzido pela Diálogo da Arte!

Chabadabadá é um espetáculo leve, compacto, divertido, muitíssimo bem-humorado, realizado com muita seriedade por profissionais nada aventureiros e que dignificam o nosso teatro.
Viva!!!
Desejo vida longa ao merecido sucesso!!!

SERVIÇO:

Teatro Ipanema.
Até 27 de março de 2016.
Sextas, sábados e domingos, às 20h.


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