O
MACHO QUE ESTÁ MAIS PARA WANDO DO QUE PARA SHAKESPEARE
OU
O
MACHISTA PÓS-MACHISMO
Certa vez sendo entrevistado num congresso sobre semiologias do
espetáculo, em Milão, o professor Umberto Eco declarou: “o teatro é um lugar de
condensação e convergência de semióticas diversas”. E é sobre esse aspecto que me
atrevo, com muito prazer, a escrever sobre esse espetáculo em forma de manual, de
autoajuda, de muita diversão em prosa e verso, e que faz jus a uma boa comédia
de costumes.
Chabadabadá, manual prático do homem jurubeba, se condensa no nosso mais
característico gênero do teatro brasileiro, transformando prosas, crônicas,
contos e “poesia musicada” numa dramaturgia divertida e bem-humorada do
cotidiano do macho que guarda feijão no pote de sorvete, que usa pomada Minâncora,
e que não se rende as “modernagens” tendências dos metrossexuais.
O texto da peça é extraído do livro de Xico Sá, intitulado “Chabadabadá, o qual faz referência à trilha do
filme “Um Homem, Uma Mulher”, obra-prima de Claude Lelouch. Mas aqui na peça
Chabadadá é o nome do programa de rádio apresentado por Francisco Reginaldo (impecavelmente interpretado por Marcos
França), um típico macho Jurubeba que responde a todas as perguntas das
ouvintes “mal-amadas”, em busca de um consolo sentimental.
Marcos França também assina a dramaturgia do espetáculo,
que dialoga com as pertinentes músicas bregas, do romântico cantor Wando,
construindo um harmônico espetáculo, com uma atmosfera cômica, estruturado através
dos códigos sociais bregas existentes na nossa sociedade.
Com um texto e uma dramaturgia popular da melhor qualidade, sem medo de
ser “cafona”, Marcos França se lança, sem reservas, a interpretar, como já
dissemos, impecavelmente o consultor sentimental. Só mesmo um ator maduro e
seguro do seu trabalho é capaz de dar vida a um personagem que já nasceu
caricato, sem ser “canastra”, sem usar de truques e gracejos para dominar a plateia.
Marcos tem um carisma contagiante que extrai boas risadas da plateia sem precisar
ser ofensivo e grosseiro, mas sabendo utilizar, a seu favor e com inteligência,
essa semiologia da linguagem do espetáculo que transita na sátira, na “amoralidade”,
no espirituoso e na ironia. Marcos também se preocupou em construir vocalmente
seu personagem. Para quem conhece o ator, sabe que ele não tem aquela voz. Brilhante!!!
Muito coerente com a construção física, imprimindo mais credibilidade ao jogo.
É uma delícia vê-lo em cena, ou melhor, vê-los em cena, pois o músico André Siqueira divide o palco com o
ator, em “chique” contraponto ao “macho-jurubeba”.
A direção de Thelmo Fernandes
é limpa, precisa e “séria”, sem grifar o que já é cómico, e engraçado,
confiando na própria linguagem do texto que dá conta desse recado.
Outro elemento muito importante de composição, é o figurino de Natália Lana, que exerce um papel temporal
ao acrescentar e modificar, grotescamente, a roupa do personagem de maneira tão
bem alinhavada no enredo, que imprime a sensação de termos assistido vários
programas, do Chabadadá, em dias diferentes.
Natália Lana também assina o enxuto cenário da montagem com muita
simplicidade funcional, deixando espaço para a excelente contribuição de Aurélio de Simoni, que além de trazer, com
a iluminação, volume ao espetáculo, compõe um cenário de show que é intercalado
à narrativa textual do espetáculo, convergindo na medida certa para o equilíbrio
da peça.
E por fim, não poderíamos deixar de ressaltar mais um belíssimo trabalho
produzido pela Diálogo da Arte!
Chabadabadá é um espetáculo leve, compacto, divertido, muitíssimo bem-humorado, realizado com muita seriedade por profissionais nada aventureiros e que
dignificam o nosso teatro.
Viva!!!
Desejo vida longa ao merecido sucesso!!!
SERVIÇO:
Teatro Ipanema.
Até 27 de março de 2016.
Sextas, sábados e domingos, às 20h.
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